segunda-feira, 1 de novembro de 2010

VITÓRIA DE DILMA ROUSSEFF: A DEMOCRACIA FALHOU


Domingo, dia 31 de outubro, os brasileiros foram às urnas e escolheram Dilma Rousseff a nova presidente do Brasil. As eleições ocorreram de forma pacífica, limpa e transparente. Muitos podem supor que tivemos uma vitória da democracia no país. Eu não concordo, essas eleições serviram apenas para reforçar algo que muitos já sabem: a democracia tende a falhar. Não estou aqui defendendo o autoritarismo. Apesar de falha, a democracia ainda é o melhor sistema de governo que inventaram, ou, como disse Winston Churchill, "a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos".


Winston Churchill: "a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos".

Por que a democracia falha? Isso é fácil de entender. Em uma democracia, todos têm direito ao voto. Isso parece muito justo, porém a maioria das pessoas não tem interesse por política ou economia. Pessoas votam muito mais por interesses pessoais que por ideologia. Além disso, o voto de uma pessoa desinteressada, desinformada ou analfabeta vale o mesmo que o que uma pessoa que se esforça para entender o mundo que a cerca. Qual o resultado final? Políticos são eleitos pelo voto de cidadãos desinformados e manipulados.

A vitória de Dilma Rousseff mostrou que a democracia é falha porque os eleitores foram, em sua grande maioria, enganados. As pessoas votaram na candidata do PT porque acreditaram que ela representa a continuidade de um projeto que está dando certo para o país. A economia no período Lula cresceu em média 4% ao ano, 32 milhões de brasileiros saíram da pobreza e 15 milhões de empregos foram criados. Isso tudo está correto, porém a propaganda partidária enfatizou que houve uma ruptura com o modelo anterior, que era privatista e neoliberal. Isso não é verdade. Em termos estritamente econômicos, a gestão petista representa uma continuidade e não uma ruptura com a ortodoxia do tucano Fernando Henrique Cardoso.


A vitória de Dilma Rousseff mostrou que a democracia é falha porque os eleitores foram, em sua grande maioria, enganados.

O Brasil de Lula teve um bom desempenho econômico porque o governo anterior criou as bases para isso. Estou me referindo ao Plano Real, ao sistema de metas de inflação, ao câmbio flutuante e à Lei de Responsabilidade Fiscal. As privatizações, que os petistas usaram como propaganda eleitoreira contra o candidato José Serra, tiveram um papel importante para o crescimento econômico do governo Lula.  Os casos da CSN, da Vale do Rio Doce e das telecomunicações são exemplos de êxito nas privatizações. O Brasil de Lula cresce e gera empregos por conta de investimentos privados e não públicos do PAC, como pensam alguns eleitores. Além da estabilidade macroeconômica e das privatizações, Lula teve a sorte de governar o país com o vento soprando a favor. Durante o seu governo, até ocorrer a crise de 2008, houve uma forte expansão da economia mundial. Esse crescimento provocou um aumento na demanda por matérias primas, favorecendo as exportações brasileiras.

Resumindo, o crescimento econômico no governo Lula foi fruto de uma convergência de fatores que não dependeram da vontade, do empenho ou da engenhosidade do presidente. Não existe essa história de “o nosso modelo” e “o modelo deles”. Não existe “o caminho que Lula ensinou”. A campanha petista foi de uma indignidade obscena, porque foi toda ela erigida sobre uma falácia. Se tudo isso não bastasse, o eleitor deu pouca importância a fatos gravíssimos ocorridos durante a gestão petista: corrupção escandalosa, aparelhamento da máquina administrativa, uso de instituições públicas para fins partidários e escalada autoritária. O Brasil está experimentando pela primeira vez um governo de esquerda. E a esquerda brasileira tem se mostrado igual à do resto do mundo: corrupta, enganadora e autoritária. Mas a maioria do eleitorado não se deu conta disso. A democracia falhou.

Um comentário:

  1. Professor,
    Muito bom o post.
    Devo enfatizar que, como eu, o senhor é partidário da teoria do incrementalismo político. Não podemos dissociar o governo atual do passado, pois é evidentemente um crescimento evolutivo, com pequenos saltos. O grande erro da oposição foi/é se calar em cada momento em que o atual presidente proclamava: "nunca antes nesse país...". Foi não mostrar à população a inverossimilhança do discurso petista.

    Acredito que a democracia ou qualquer outro sistema político adotado sempre apresentará traços ruins, em virtude da própria tendência do homem. Já foram tentandos tantos sistemas que sempre culminaram em certo fracasso, pois não dá para se desvencilhar do egoísmo que o poder proporciona.

    É com grande tristeza que vi o Brasil eleger a Dilma, e compartilho do seu sentimento. Aliás, exceto pela Marina, todos os candidatos se mostraram incoerentes em suas propostas e convicções, e cederam à pressão popular, além de não darem o devido enfoque a questões primordiais como a reforma monetária e fiscal.

    Assim segue o Brasil, com a juventude cada vez mais alienada e com pouco interesse no agir.

    Continuarei acompanhando o seu blog de perto, parabéns, professor!

    Abraços, Caroline.

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