quinta-feira, 28 de outubro de 2010

BRASIL ESTÁ FORA DO RANKING DAS 200 MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO


O Brasil está mal no Ranking Mundial de Universidades 2010-11, elaborado pela Times Higher Education, publicação especializada em ensino superior do jornal inglês The Times. A universidade brasileira mais bem posicionada nesse ranking é a Universidade de São Paulo (USP), que ocupa a 232ª posição. Será que é normal um país que está entre as dez maiores economias do mundo não ter uma única universidade que figure entre as 200 melhores? Você pode achar que sim, afinal somos um pais em desenvolvimento. Bem, a China, que também é um país emergente, tem quatro universidades entre as 50 melhores do mundo. Quem você acha que está se preparando de fato para ser uma potência econômica nos próximos anos? Há muita coisa errada com a nossa educação, começando pelo ensino básico e terminando na pós graduação. Mas hoje vou escrever sobre ensino superior.


HAVARD: A MELHOR DO MUNDO


As melhores universidades brasileiras são públicas, salvo algumas poucas exceções. As públicas são as melhores do Brasil, mas ficam muito atrás das melhores do mundo. Qual a razão disso? Será que nós brasileiros somos menos inteligentes, menos capazes? Não é nada disso, no Brasil há pessoas tão inteligentes como em qualquer lugar do mundo. O nosso problema não está na falta de recursos, mas na forma como esses vêem sendo utilizados. Uma universidade pública funciona como uma empresa estatal, o professor é um servidor público, aprovado em concurso e com estabilidade garantida por lei. Como todos sabem, um dos vícios do funcionalismo público de um modo geral é a baixa produtividade. Trabalhadores têm de ser recompensados de acordo com a produção, quem produz mais, recebe mais. Em qualquer empresa privada as coisas funcionam mais ou menos assim. Vendedores recebem comissão sobre vendas, é um incentivo para vender mais. Um executivo de uma empresa multinacional vai receber bônus de acordo com os lucros que a empresa obtiver no ano. Você já ouviu alguém dizer que isso é injusto, errado, inadequado, ou seja lá o que for? Não, porque é algo que evidentemente funciona.

É lógico que na prática sempre haverá imperfeições. Mesmo em empresas privadas algumas pessoas conseguem galgar posições utilizando-se de contatos com pessoas influentes, bajulação, trapaça, etc. A conclusão é que não é tão simples assim colocar a meritocracia em prática. Mas não é por isso que uma universidade pública deve expurgar a meritocracia de seu dicionário. Se não existe um sistema de recompensas proporcional ao desempenho de cada professor, a universidade gera um incentivo para que os professores tenham baixa produtividade.

Um segundo problema das universidades públicas é a insuficiência de verbas. Professores universitários são mal remunerados, pelo menos quando se compara com os cargos top da administração publica de um modo geral. Um candidato a vaga de professor em uma universidade pública tem de ser no mínimo doutor. Porém o salário pago a um professor doutor é em alguns caso menos da metade do salário pago a certos cargos da administração pública que exigem apenas o nível superior. Alguém pode me explicar qual a lógica disso?

Tenho um amigo que era professor universitário e passou em um desses concursos públicos super disputados, que pagam salários  acima de 10 mil reais. Encontrei com ele um dia por acaso e perguntei. Como vai você? Como está em seu novo emprego? Ele me respondeu que muito bem. Perguntei a ele, e o serviço, é difícil? Ele me disse: não, “é bem tranqüilo”. Ou seja, bem fácil. Mas se é bem fácil, por que o salário é tão alto? Por que uma pessoa que desempenha um serviço fácil (segundo esse meu amigo) deve receber um salário quase duas vezes maior que o de um professor doutor? É simplesmente fantástico, o governo brasileiro ao pagar salários  altíssimos para certas carreiras do funcionalismo público atrai os melhores cérebros do país para o serviço burocrático. Enquanto isso, vão seguir carreira acadêmica os que têm paixão pelo conhecimento, horror a serviço burocrático, não precisam de dinheiro, ou simplesmente não têm capacidade para passar em um concurso desse tipo.

As pessoas mais inteligentes desse país em vez de produzirem ciência, estudam para prestar concurso público. Isso é simplesmente uma aberração. Para um país se desenvolver, é necessário educação de qualidade. Para isso a carreira de professor tem de ser valorizada, tem de atrair as melhores cabeças. Não dá para contar com a postura heróica de professores mártires que vão sacrificar suas vidas em prol do desenvolvimento da nação. Pessoas talentosas querem ter bons salários e isso é perfeitamente justo.  

Para termos universidades de altíssimo nível, que figurem entre as melhores do mundo, é necessário mais verbas. Não apenas para pagar melhor os professores, mas para equipar laboratórios e salas de aula, financiar pesquisas etc. Mas de onde virá o dinheiro? Muitos podem achar que o dinheiro tem de vir do governo. Isso é o mesmo que dizer que o dinheiro tem de sair do bolso do contribuinte. Ou seja, do meu, do seu, do nosso bolso. Será justo onerar mais ainda o contribuinte? Acho que nós brasileiros já pagamos impostos demais. Além disso, a maior parte dos contribuintes brasileiros não freqüenta ou freqüentou uma universidade e, em muitos casos, seus filhos muito provavelmente também não freqüentarão. É correto que essas pessoas financiem os estudos de outras que muitas vezes têm plenas condições de pagar pelos seus estudos?

Imagine um aluno do curso de medicina da USP. Qual o custo que o governo tem para proporcionar a essa pessoa estudo inteiramente gratuito? Quanto esse aluno pagaria por um curso equivalente em uma instituição privada? Quando esse aluno se formar, irá abrir seu consultório e cobrar pelas consultas. O que o contribuinte que subsidiou a educação desse aluno recebe em troca? Nada, nada, nadinha. Você acha isso justo? Dos alunos da USP, 70% vieram de colégios particulares. Se levássemos em consideração apenas os alunos dos cursos mais disputados - medicina, direito, odontologia, engenharia etc - com certeza esse percentual seria bem superior. Ou seja, a maioria dos alunos das universidades públicas, sobretudo os dos cursos mais disputados, veio de escolas particulares. Portanto são pessoas de classe média ou classe alta, que têm condições de pagar pelos seus estudos. O ensino público superior gratuito no Brasil é um instrumento brutal de concentração de renda. Pessoas pobres subsidiam o ensino de pessoas ricas e de classe média. Nós temos um sério problema de distribuição de renda no Brasil e, para agravar ainda mais esse quadro, o ensino superior gratuito funciona como uma espécie de Robin Hood às avessas, que tira dos pobres e dá aos ricos.

USP: A MELHOR DO BRASIL E A 232a MELHOR DO MUNDO,
PRECISAMOS MELHORAR

A probabilidade de mudar esse quadro é remota, quase nula. Implantar meritocracia nas universidades públicas esbarra no corporativismo dos professores. Funcionários públicos de um modo geral não gostam de meritocracia, querem sempre que as benesses sejam distribuídas a todos, indistintamente. Com relação aos salários, professores continuarão ganhando menos que outros servidores públicos porque não têm força política para mudar essa situação. Quando professores fazem greve, o governo não dá muita importância, porém se houver uma greve entre fiscais da Receita Federal a história é bem diferente. Finalmente, cobrar mensalidade de alunos não teria apoio da sociedade. O sujeito comum que paga imposto e que nunca estudou em uma universidade pública será manipulado pela propaganda interesseira de grupos organizados e será o primeiro a protestar contra. Resumindo, tudo deve continuar do jeito que está. A única solução seria a sociedade se conscientizar desse problema e exigir que o governo promova uma mudança profunda na educação do país. Pessoas conscientes? Acho que isso é querer demais.


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