Recentemente, muitos analistas passaram a argumentar que a China atua de forma mercantilista no comércio internacional. O que significa isso? O mercantilismo foi um período da história da humanidade que durou aproximadamente trezentos anos, quando se deu a transição do feudalismo para o capitalismo. Os primeiros mercantilistas argumentavam que para um país ficar mais rico deveria exportar mais e importar menos. Com isso o país acumularia mais ouro, a moeda usada nas trocas comerciais naquela época.
O mercantilismo é uma forma completamente anacrônica de se interpretar o comércio internacional. Imagine se todos os países do mundo tentassem simultaneamente aumentar suas exportações e reduzir importações. Simplesmente não teríamos comércio, pois as exportações de um país são as importações de outro. A vantagem do comércio internacional não está no acúmulo de ouro (ou dólares), mas na especialização. Cada país se especializa na produção dos bens em que tem relativamente maior produtividade. Com isso temos uma alocação mais eficiente dos recursos e conseqüentemente um aumento do produto global. Todavia, um certo país parece não ter aprendido ainda essa lição: a China. Com seus saldos comerciais gigantescos, ela não para de acumular ouro, ou melhor, dólares. Atualmente as reservas chinesas estão em torno de 2,5 trilhões de dólares e não param de crescer.
Graças a sua moeda mantida artificialmente desvalorizada, os chineses se transformaram na grande fábrica do mundo. Quase toda manufatura que compramos vem com uma etiqueta escrito made in China. Se um pequeno país adota uma política mercantilista, não há grandes problemas. Mas quando um gigante, com uma população de aproximadamente 1,3 bilhões de habitantes, age dessa maneira, a história é bem diferente. A China com seus superávits comerciais gigantescos tem criado um desequilíbrio global. O governo argumenta que o crescimento proporcionado pelas exportações tem tirado milhões de chineses da miséria. Isso é fato. Mas o resto do mundo também deseja crescer, gerar mais empregos e reduzir pobreza. A China tem crescido às custas do crescimento do resto do mundo e isso não é justo.
CHINA: MOEDA DESVALORIZADA E MÃO-DE-OBRA BARATA,
QUEM CONSEGUE COMPETIR COM ELA?
QUEM CONSEGUE COMPETIR COM ELA?
Se o yuan desvalorizado já incomodava muita gente, com a atual guerra cambial passou a incomodar muito mais. Para se recuperar da crise de 2009, os Estados Unidos fizeram emissões massivas de dólares, o que desvalorizou a moeda norte-americana em relação a quase todas as outras moedas do planeta. Quase todas, o yuan continua grudado ao dólar feito um carrapato. Se o dólar desvaloriza, a moeda chinesa desvaloriza junto. Existe uma pressão do mundo inteiro para que a China mude sua política cambial e valorize sua moeda, mas os chineses têm sido reticentes em relação a esse assunto.
Como tudo isso afeta o Brasil? O yuan desvalorizado favorece a economia brasileira de um lado e prejudica de outro. Quanto mais desvalorizada estiver a moeda chinesa, mais eles produzirão, exportarão e logicamente mais matéria-prima irão comprar do Brasil. Por outro lado, o yuan desvalorizado torna os produtos chineses extremamente baratos. Não há como competir. O Brasil corre o risco de ver sua indústria ser aniquilada pela concorrência chinesa. Os produtos chineses têm prejudicado inclusive alguns produtos brasileiros de exportação. Em 2003, 79% dos calçados importados pela Argentina eram provenientes do Brasil. No primeiro trimestre deste ano, esse percentual caiu para 57,5%. Por outro lado, a participação chinesa passou de 12,5% para 23% nesse mesmo período. Como bem observou o ex-ministro Rubens Ricupero, a China ameaça a integração econômica da América Latina.
A CHINA AMEAÇA A INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA?
Como o Brasil deve reagir? Não podemos obrigar a China a valorizar sua moeda, Mas podemos engrossar o coro dos que estão tentando fazer isso. Até o momento o Brasil tem adotado uma postura de neutralidade. Muitos analistas acham que o yuan desvalorizado prejudica mais do que favorece nossa economia. Não concordo com isso, acho que o Brasil tem mais a ganhar do que perder. Em relação à nossa indústria, ameaçada pelos produtos vindos da China, o governo poderia simplesmente aumentar as alíquotas de importação. Os chineses necessitam do minério de ferro e da soja produzidos pelo Brasil e não teriam como retaliar nossas exportações. Essa é a melhor opção. Alguém consegue ver uma saída melhor?
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