Domingo passado, assisti a uma entrevista com o ministro da Fazenda. O foco era a valorização do real, a guerra entre moedas e a recente reunião do FMI em Washington para tratar sobre o tema. Nesse programa, o ministro diz que as contas públicas estão em ordem e o país não precisa de um ajuste fiscal. Você pode assistir à entrevista clicando no link abaixo:
GUIDO MANTEGA: GASTO PÚBLICO NÃO GERA INFLAÇÃO. SÓ ELE PENSA ASSIM.
Também no domingo, algumas horas antes de assistir ao programa, conversei com um amigo que está se preparando para prestar concurso público. Ele me disse que os “concurseiros” estão fazendo uma campanha na internet para eleger Dilma presidente. Tucanos têm fama de privatistas e o medo deles é que com Serra haja muito menos concursos. Mas o que a declaração do ministro sobre gasto público tem a ver com a campanha dos concurseiros a favor de Dilma? Muito mais do que você imagina.
Vamos tentar juntar as peças. De cada 10 economistas brasileiros, 11 entendem que o país deveria aproveitar a atual conjuntura para promover uma redução do gasto público. Se o país gastasse menos, não precisaria de juros tão altos para manter a inflação sobre controle. Para explicar isso, vou ter de usar um termo do “economês”: produto potencial. Mas é algo bem simples de entender. Produto potencial consiste numa estimativa do nível do PIB (Produto Interno Bruto) supondo a economia operando no seu potencial máximo, porém sem aceleração inflacionária. Quando a economia opera acima do seu produto potencial, ocorre inflação. Para eliminar esse hiato inflacionário, o governo tem de reduzir a demanda e pode fazer isso através do aumento dos juros (política monetária) ou redução do gasto público (política fiscal). Porém o governo tem agido de uma forma estranha nesse caso. Podemos dizer que nossa política econômica é um tanto quanto esquizofrênica, pois é expansiva do lado fiscal e ultra restritiva do lado monetário. Como o governo brasileiro gasta muito, o esforço fica todo concentrado do lado da política monetária. Por isso o Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo.
Vamos tentar juntar as peças. De cada 10 economistas brasileiros, 11 entendem que o país deveria aproveitar a atual conjuntura para promover uma redução do gasto público. Se o país gastasse menos, não precisaria de juros tão altos para manter a inflação sobre controle. Para explicar isso, vou ter de usar um termo do “economês”: produto potencial. Mas é algo bem simples de entender. Produto potencial consiste numa estimativa do nível do PIB (Produto Interno Bruto) supondo a economia operando no seu potencial máximo, porém sem aceleração inflacionária. Quando a economia opera acima do seu produto potencial, ocorre inflação. Para eliminar esse hiato inflacionário, o governo tem de reduzir a demanda e pode fazer isso através do aumento dos juros (política monetária) ou redução do gasto público (política fiscal). Porém o governo tem agido de uma forma estranha nesse caso. Podemos dizer que nossa política econômica é um tanto quanto esquizofrênica, pois é expansiva do lado fiscal e ultra restritiva do lado monetário. Como o governo brasileiro gasta muito, o esforço fica todo concentrado do lado da política monetária. Por isso o Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo.
O cenário econômico que estamos atravessando dá ao país uma oportunidade de ouro para reduzir o gasto público e aliviar a pressão sobre os juros. Nesse ano, o Brasil deve crescer 7% ou 8%. Quando o país cresce a um ritmo forte, o governo arrecada mais impostos. É muito mais fácil aumentar o superávit primário quando a economia cresce e gera mais receita para o governo. Mas se é tão benéfico assim, por que o governo então não reduz seus gastos? Muito simples, ajuste fiscal não dá ibope. Nenhum governo fica mais popular ao ajustar contas públicas. Por outro lado, aumento dos gastos agrada muita gente, o apoio dos eleitores tende a ser muito maior. A maior parte das pessoas vota de acordo com seus interesses individuais e não no que é melhor para o país como um todo. Por exemplo, se o governo cria novos cargos públicos, faz mais concursos, contrata mais funcionários ou aumenta os salários de quem já trabalha no governo, muita gente vai gostar. Talvez essa não seja a melhor política para o país, mas rende votos e apoio político.
Atualmente, o país gasta mais de 50% do orçamento com pagamento de salários e aposentadorias e somente 3% com investimento. Para piorar, o país contrata cada vez mais funcionários burocráticos e não vemos nenhuma melhora significativa na qualidade dos serviços públicos. Pode não ser bom para o país, mas inchar a administração pública rende voto. Por outro lado, se o governo faz ajuste fiscal, ninguém vai prestar muita atenção. O que significa ajuste fiscal? Como isso afeta a minha vida? Não estou muito interessado em saber.
Atualmente, o país gasta mais de 50% do orçamento com pagamento de salários e aposentadorias e somente 3% com investimento. Para piorar, o país contrata cada vez mais funcionários burocráticos e não vemos nenhuma melhora significativa na qualidade dos serviços públicos. Pode não ser bom para o país, mas inchar a administração pública rende voto. Por outro lado, se o governo faz ajuste fiscal, ninguém vai prestar muita atenção. O que significa ajuste fiscal? Como isso afeta a minha vida? Não estou muito interessado em saber.
CONCURSEIROS DISPUTAM CARGOS PÚBLICOS.
Não tenho nada contra quem está se preparando para prestar concurso. Durante muito tempo, eu fui funcionário público, mas mesmo nessa época eu não aceitava a atitude corporativista dos meus colegas de trabalho. Talvez eu fosse meio quixotesco, talvez até hoje o seja, mas acho que antes do nosso interesse individual temos de pensar no que é melhor para o país. Em outro artigo eu disse que somos todos egoístas, mas isso não é tão mau assim. Agora estou dizendo que temos que pensar primeiro no que é bom para país. Será que estou sendo contraditório? Acho que não. O egoísmo não é tão mau, mas também não é bom. Uma sociedade constituída por pessoas movidas por um auto-interesse sem limites com certeza não será boa. Um pouco de altruísmo é fundamental.
Gostaria que comentasse sobre a opinião do ministro Guido Mantega que diz:
ResponderExcluir"essa história de dizer: 'faz ajuste fiscal que vai baixar juro' é um equívoco, é não entender o sistema de metas de inflação. Haveria necessidade de ajuste se você tivesse com a inflação subindo po causa da demanda pública. Não é o caso"
Para ele, os juros variam apenas de acordo com a inflação, que, por sua vez, não está sendo afetada por despesas públicas. "Não tem nada a ver uma coisa com a outra".
"serai equívoco fazer ajuste para criar condição de reduzir juros e, por consequência, conter queda do dólar".
Olá, Ranna. Eu li essa entrevista. O ministro tem uma tarefa muito difícil: convencer as pessoas de algo que todo mundo sabe não ser verdade. O gasto público aumenta a demanda e consequentemente contribui para elevar preços. A resistência do ministro tem a ver com uma questão política. O governo não quer reduzir seus gastos e o ministro tem que justificar isso de alguma forma. Mas ele terá cada vez menos argumentos e menos capacidade de convencer os outros. Eu não gostaria de estar na pele dele.
ResponderExcluirParabéns professor, estou adorando seus textos
ResponderExcluirContinue escrevendo...
Abs!