domingo, 17 de outubro de 2010

ENQUANTO GOVERNO ENXUGA GELO, PAÍS PERDE OPORTUNIDADE DE OURO

Como bem observou o ex-ministro Delfim Netto, a política de juro alto faz do Brasil o último peru com farofa na mesa dos especuladores internacionais. Por conta da crise de 2008, muitos paises reduziram os juros para próximo de zero. Enquanto isso, o Brasil tem uma taxa básica anual de 10,75%. Esse diferencial de juros faz com que muitos investidores peguem dinheiro em países com juros baixos, principalmente Estados Unidos e Japão, e apliquem no Brasil, operação conhecida como carry trade.

Outro fator que torna o Brasil e vários outros países atraentes para investidores internacionais é o crescimento econômico. Os Estados Unidos colocaram uma enorme quantidade de dólares em circulação para estimular a economia. Essa imensa massa de recursos não encontra muitas oportunidades de rendimento em países desenvolvidos, onde o crescimento é fraco e os juros estão próximos de zero. No mundo emergente, a situação é diferente, muitos países estão crescendo e as oportunidades de investimento são muito maiores. O resultado é bastante obvio: uma tsunami de recursos inunda os países emergentes, entre eles o Brasil, valorizando suas moedas

Uma moeda valorizada diminui a competitividade do país, prejudicando as exportações. Além disso, o país passa a importar mais e  pode ter problemas com suas contas externas. Nesse ano, o Brasil deve ter um déficit em transações correntes em torno de 2,5 % do PIB. Para 2011, alguns analista estimam que esse número deve subir para 3,5%.

Para conter a valorização do real, o Banco Central tem comprado dólares e recentemente o governo aumentou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 4% para aplicações de estrangeiros em renda fixa. Essas medidas têm surtido pouco resultado. O governo alega ter outras armas para conter a valorização do real, mas até agora a política do governo se parece mais com um sujeito que tenta enxugar gelo em pelo deserto do Saara.

Como bem diz a sabedoria popular, todo problema traz consigo uma oportunidade. E é exatamente isso que acontece com a economia brasileira nesse momento. Em meio a toda essa confusão cambial, ou “guerra de moedas”, nas palavras do ministro da Fazenda Guido Mantega, o país perde uma oportunidade de ouro para reduzir a taxa básica de juros.

Além da política monetária, o governo pode usar também a política fiscal como um instrumento auxiliar de combate à inflação. Quando o governo reduz seus gastos, diminui a demanda interna e ajuda a manter os preços sob controle. E é justamente nos momentos de crescimento econômico que o país tem mais condições de reduzir gastos. Essa lição básica de economia é tão antiga que podemos encontrá-la até no Velho Testamento.

No antigo Egito, o faraó estava perturbado com um sonho misterioso. Ele sonhara com sete vacas gordas e bonitas saindo do rio Nilo. Em seguida, sete vacas magras e feias saiam do mesmo rio e devoravam as sete vacas gordas. O hebreu José interpretou o sonho do faraó como sete anos de fartura e sete anos de fome. O faraó ordenou então a construção de celeiros para armazenar grãos para os anos de fome. Essa lição tão simples, porém sábia, de poupar no período de bonança para não passar por privações no período de escassez parece não ter sido plenamente assimilada pelo governo brasileiro.


AS SETE VACAS GORDAS E AS SETE VACAS MAGRAS: UMA LIÇÃO
DE ECONOMIA NO VELHO TESTAMENTO

No ano de 2009, com crescimento econômico próximo de zero, o Brasil teve um superávit primário de 1,5 % do PIB. Nesse ano, com crescimento próximo de 7,5%, o governo terá uma receita tributária muito superior e logicamente o superávit poderia ser muito maior. Todavia, se não levarmos em consideração as receitas decorrentes das operações envolvendo a capitalização da Petrobrás, o superávit primário deverá ficar próximo de 1,5 %, ou seja, o mesmo valor do ano passado, o que é um grande absurdo. Se o governo gastasse menos, haveria mais espaço para redução dos juros. Com juros mais baixos, o país atrairia menos dólares e aumentaria sua competitividade. Mas a sanha do gasto público parece ser mais forte que o bom senso da poupança. Quem sabe a leitura do Velho Testamento não ajudasse a iluminar a mente dos nossos gestores de política econômica ...

Se você concorda com o que acabou de ler, ajude a divulgar essa idéia. Um país melhor depende de governos responsáveis e pessoas bem informadas. Resolvi escrever esse artigo após ter assistido ao programa Espaço Aberto, com a jornalista Miriam Leitão: Reunião com FMI debate guerra cambial. Para assistir ao programa, basta clicar no link abaixo:

http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1624421-17665,00-REUNIAO+DO+FMI+DEBATE+GUERRA+CAMBIAL.html

Um comentário:

  1. Boa noite prof Ivan Dauchas, meu nome é Rodrigo Gonçalves sou estudante do 5º semestre de adm na faculdade Uniesp.
    Gostei do seu comentario sobre a guerra cambial mundial, mas fiquei com algumas duvidas sobre a redução de gastos publicos para diminuir a pressao sobre o cambio.
    Por exemplo o menor gasto nao iria diminuir os gastos em infraesturturas no pais?
    Isso não poderia forçar os preços para cima gerando inflação, já que com a diminuição de juro haveria maior tomada de credito no pais causando maior demanda? Isso não iria forçar os vendedores a aumentar o preço para tentar conter a demanda, já que sem infraestrutura nao a como acompanhar o ritmo de crecimento de demanda que poderia gerar uma diminuição dos juros?

    Muito obrigado e parabéns pelo blog

    Atenciosamente Rodrgio Gonçalves
    email.rodrigo.goncalvespinto@gmail.com

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