Comecei a escrever esse blog em setembro deste ano, quando ocorreu o escândalo da quebra de sigilos da Receita Federal. Eu imaginei, à época, que o fato iria produzir um belo estrago na campanha da então candidata à presidência Dilma Rousseff. Para meu espanto, nada aconteceu. A primeira pesquisa de intenção de voto feita após o episódio mostrou que Dilma permanecia em primeiro lugar na preferência do eleitorado com cristalizados 50% dos votos. Fiquei estarrecido, não podia acreditar no que estava acontecendo. Violar sigilo fiscal para fins de campanha eleitoral é um expediente gravíssimo. Como o eleitor podia permanecer alheio a isso? Senti naquele momento necessidade de expressar minha indignação.
A candidatura Dilma somente iria sofrer um revés quando veio à tona um segundo escândalo: o tráfico de influência na Casa Civil perpetrado pela então ministra Erenice Guerra e sua trupe. Muitos analistas concluíram que o caso Erenice provocou o segundo turno na eleição presidencial.
Dilma Rousseff e Erenice Guerra: muitos analistas acreditam que o tráfico de influência na Casa Civil provocou o segundo turno na eleição presidencial.
Particularmente, achei o primeiro episódio mais grave que o segundo. Mas por que o escândalo na Receita não produziu resultado algum enquanto o caso Erenice retardou a vitória de Dilma? Muito provavelmente porque a maioria dos brasileiros não entende o que significa aparelhamento da máquina administrativa e menos ainda o estrago que isso pode produzir.
Muito bem, tudo isso é passado. Todavia, um fato recente me fez refletir mais uma vez sobre esse assunto. No dia 17 deste mês, o jornal Folha de São Paulo publicou um artigo intitulado “Novo padrão de mudança social”, de autoria do economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Ao ler o artigo, novamente fiquei estarrecido. Os acontecimentos políticos no Brasil têm uma infinita capacidade de me surpreender. Aquilo não era o texto de um pesquisador sério, pautado na neutralidade ideológica. Era simplesmente uma propaganda escancarada a favor da administração petista. Não sou contra que um partido político faça propaganda, desde que com seus próprios recursos. O que não pode é o presidente do mais prestigioso centro de pesquisa econômica do país se prestar a tal serviço. Isso é um deboche.
Se você tiver interesse em ler o referido artigo na íntegra, basta clicar no SITE OFICIAL DA LIDERANÇA DO PT. É isso mesmo que você leu. O texto do presidente do Ipea está no site oficial de um partido político.
Pessoas bem informadas sabem que o PT de ontem era o partido do contra. Um ajuntamento de radicais xiitas que acreditava que o socialismo era o modelo econômico ideal para o Brasil. Se fosse feita a vontade do PT, hoje o Brasil teria um padrão de desenvolvimento econômico semelhante a Cuba. Lula era chamado de sapo barbudo e todos o viam como um radical feroz que iria dar calote na dívida externa, estatizar empresas multinacionais e promover uma reforma agrária na marra.
Os parlamentares petistas desse período votaram contra tudo que contribuiu para o desenvolvimento político e econômico deste país. Entre outras coisas, o PT votou contra a Constituição Federal de 1988, o Plano Real (1994), o Sistema de Metas de Inflação (1999) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000). Só para citar alguns casos. Concluímos, portanto, que, se o “país está dando certo”, como foi dito várias vezes na campanha eleitoral, isso acontece apesar do PT e não por causa dele.
O PT era o partido do contra, parlamentares petistas votaram contra tudo que contribuiu para o desenvolvimento político e econômico deste país.
Todavia Pochmann distorce a realidade e argumenta que com Lula o país atingiu um “novo padrão de mudança social”. Se essa bobagem toda tivesse sido escrita por um economista do PT, sem problema. O partido estaria pagando alguém para fazer propaganda. Mas não é o caso. Essa demagogia parte do presidente do Ipea. Afinal de contas, para quem trabalha o Sr. Pochmann? Quem paga o seu salário? O governo ou o partido? Quando servidores públicos passam a servir a um partido político em vez da nação, chamamos isso de aparelhamento ideológico da máquina administrativa. E é isso que está ocorrendo no Ipea, na Receita Federal e em diversas outras instituições públicas.
Todavia Pochmann distorce a realidade e argumenta que com Lula o país atingiu um “novo padrão de mudança social”. Se essa bobagem toda tivesse sido escrita por um economista do PT, sem problema. O partido estaria pagando alguém para fazer propaganda. Mas não é o caso. Essa demagogia parte do presidente do Ipea. Afinal de contas, para quem trabalha o Sr. Pochmann? Quem paga o seu salário? O governo ou o partido? Quando servidores públicos passam a servir a um partido político em vez da nação, chamamos isso de aparelhamento ideológico da máquina administrativa. E é isso que está ocorrendo no Ipea, na Receita Federal e em diversas outras instituições públicas.
Convém lembrar que, em novembro de 2007, Márcio Pochmann afastou do Ipea quatro renomados pesquisadores, simplesmente por não terem um pensamento alinhado ao do governo. Os quatro pesquisadores afastados foram: Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Dois desses pesquisadores estavam no Ipea há 40 anos e nem mesmo durante a ditadura militar sofreram tal censura. Ou seja, além de garoto propaganda do PT, o Sr. Pochmann se presta também ao papel de oficial da Gestapo, quando necessário.
Concluindo. Quando terminei de ler o referido artigo, imediatamente escrevi uma nota para o Jornal Folha de São Paulo, que foi publicada no dia 19 de novembro. Segue abaixo o texto:
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Novo padrão de mudança social
No artigo "Novo padrão de mudança social" ("Tendências/ Debates", 17/11), o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, argumenta que o Brasil conviveu nas últimas décadas com três padrões diferentes de mudança social: o primeiro entre 1960 e 1970, o segundo entre 1981 e 2003 e o terceiro de meados da década de 2000 até agora.
Não é necessário ser economista para perceber que o artigo é uma simples propaganda política do atual governo. Pochmann dá um tom técnico e apresenta uma série de números para sustentar a tese demagógica de que este é o "país que está dando certo", em oposição ao "país que deu errado". Ou ainda repisar o desgastado discurso de que "nunca antes na história deste país...".
Pessoas bem informadas sabem que as mudanças ocorridas aqui ao longo das últimas décadas não podem ser simplificadas dessa maneira. O presidente Lula não é o responsável por tudo que acontece de positivo no país.
Não é necessário ser economista para perceber que o artigo é uma simples propaganda política do atual governo. Pochmann dá um tom técnico e apresenta uma série de números para sustentar a tese demagógica de que este é o "país que está dando certo", em oposição ao "país que deu errado". Ou ainda repisar o desgastado discurso de que "nunca antes na história deste país...".
Pessoas bem informadas sabem que as mudanças ocorridas aqui ao longo das últimas décadas não podem ser simplificadas dessa maneira. O presidente Lula não é o responsável por tudo que acontece de positivo no país.
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IVAN DAUCHAS (São Paulo, SP) Jornal Folha de São Paulo. PAINEL DO LEITOR. São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2010.
IVAN DAUCHAS (São Paulo, SP) Jornal Folha de São Paulo. PAINEL DO LEITOR. São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2010.
Pois então, meu caro leitor, vamos ficar atentos. Esse aparelhamento ideológico é mais grave do que a maioria das pessoas imagina. No passado, o PT talvez fosse uma ameaça à estabilidade econômica, hoje não é mais. Há muito, o partido lançou à lata do lixo seu ideário socialista. Hoje o PT é uma ameaça às instituições do país. Lula e seus aliados são de um pragmatismo extremo. Tudo que é bom para o partido é valido, porque também é bom para o país. Prevalece entre petistas a máxima maquiavélica: “os fins justificam os meios”. Se para fortalecer o partido é necessário corromper as instituições públicas, que assim seja.
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