domingo, 21 de novembro de 2010

GOVERNO E PARTIDO


Comecei a escrever esse blog em setembro deste ano, quando ocorreu o escândalo da quebra de sigilos da Receita Federal. Eu imaginei, à época, que o fato iria produzir um belo estrago na campanha da então candidata à presidência Dilma Rousseff. Para meu espanto, nada aconteceu. A primeira pesquisa de intenção de voto feita após o episódio mostrou que Dilma permanecia em primeiro lugar na preferência do eleitorado com cristalizados 50% dos votos. Fiquei estarrecido, não podia acreditar no que estava acontecendo. Violar sigilo fiscal para fins de campanha eleitoral é um expediente gravíssimo. Como o eleitor podia permanecer alheio a isso? Senti naquele momento necessidade de expressar minha indignação.

A candidatura Dilma somente iria sofrer um revés quando veio à tona um segundo escândalo: o tráfico de influência na Casa Civil perpetrado pela então ministra  Erenice Guerra e sua trupe. Muitos analistas concluíram que o caso Erenice provocou o segundo turno na eleição presidencial.


Dilma Rousseff e Erenice Guerra: muitos analistas acreditam que o tráfico de influência na Casa Civil provocou o segundo turno na eleição presidencial.

 Particularmente, achei o primeiro episódio mais grave que o segundo. Mas por que o escândalo na Receita não produziu resultado algum enquanto o caso Erenice retardou a vitória de Dilma? Muito provavelmente porque a maioria dos brasileiros não entende o que significa aparelhamento da máquina administrativa e menos ainda o estrago que isso pode produzir.

Muito bem, tudo isso é passado. Todavia, um fato recente me fez refletir mais uma vez sobre esse assunto. No dia 17 deste mês, o jornal Folha de São Paulo publicou um artigo intitulado “Novo padrão de mudança social”, de autoria do economista Márcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Ao ler o artigo, novamente fiquei estarrecido. Os acontecimentos políticos no Brasil têm uma infinita capacidade de me surpreender. Aquilo não era o texto de um pesquisador sério, pautado na neutralidade ideológica. Era simplesmente uma propaganda escancarada a favor da administração petista. Não sou contra que um partido político faça propaganda, desde que com seus próprios recursos. O que não pode é o presidente do mais prestigioso centro de pesquisa econômica do país se prestar a tal serviço. Isso é um deboche.

Se você tiver interesse em ler o referido artigo na íntegra, basta clicar no SITE OFICIAL DA LIDERANÇA DO PT. É isso mesmo que você leu. O texto do presidente do Ipea está no site oficial de um partido político.

Pessoas bem informadas sabem que o PT de ontem era o partido do contra. Um ajuntamento de radicais xiitas que acreditava que o socialismo era o modelo econômico ideal para o Brasil. Se fosse feita a vontade do PT, hoje o Brasil teria um padrão de desenvolvimento econômico semelhante a Cuba. Lula era chamado de sapo barbudo e todos o viam como um radical feroz que iria dar calote na dívida externa, estatizar empresas multinacionais e promover uma reforma agrária na marra.

Os parlamentares petistas desse período votaram contra tudo que contribuiu para o desenvolvimento político e econômico deste país. Entre outras coisas, o PT votou contra a Constituição Federal de 1988, o Plano Real (1994), o Sistema de Metas de Inflação (1999) e a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000). Só para citar alguns casos. Concluímos, portanto, que, se o “país está dando certo”, como foi dito várias vezes na campanha eleitoral, isso acontece apesar do PT e não por causa dele.




O PT era o partido do contra, parlamentares petistas votaram contra tudo que contribuiu para o desenvolvimento político e econômico deste país.

Todavia Pochmann distorce a realidade e argumenta que com Lula o país atingiu um “novo padrão de mudança social”. Se essa bobagem toda tivesse sido escrita por um economista do PT, sem problema. O partido estaria pagando alguém para fazer propaganda. Mas não é o caso. Essa demagogia parte do presidente do Ipea. Afinal de contas, para quem trabalha o Sr. Pochmann? Quem paga o seu salário? O governo ou o partido? Quando servidores públicos passam a servir a um partido político em vez da nação, chamamos isso de aparelhamento ideológico da máquina administrativa. E é isso que está ocorrendo no Ipea, na Receita Federal e em diversas outras instituições públicas.


Márcio Pochmann: para quem ele trabalha? Para o governo ou para o partido?

Convém lembrar que, em novembro de 2007, Márcio Pochmann afastou do Ipea quatro renomados pesquisadores, simplesmente por não terem um pensamento alinhado ao do governo. Os quatro pesquisadores afastados foram: Fabio Giambiagi, Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Dois desses pesquisadores estavam no Ipea há 40 anos e nem mesmo durante a ditadura militar sofreram tal censura. Ou seja, além de garoto propaganda do PT, o Sr. Pochmann se presta também ao papel de oficial da Gestapo, quando necessário.

Concluindo. Quando terminei de ler o referido artigo, imediatamente escrevi uma nota para o Jornal Folha de São Paulo, que foi publicada no dia 19 de novembro. Segue abaixo o texto:


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Novo padrão de mudança social


No artigo "Novo padrão de mudança social" ("Tendências/ Debates", 17/11), o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, argumenta que o Brasil conviveu nas últimas décadas com três padrões diferentes de mudança social: o primeiro entre 1960 e 1970, o segundo entre 1981 e 2003 e o terceiro de meados da década de 2000 até agora.

Não é necessário ser economista para perceber que o artigo é uma simples propaganda política do atual governo. Pochmann dá um tom técnico e apresenta uma série de números para sustentar a tese demagógica de que este é o "país que está dando certo", em oposição ao "país que deu errado". Ou ainda repisar o desgastado discurso de que "nunca antes na história deste país...".

Pessoas bem informadas sabem que as mudanças ocorridas aqui ao longo das últimas décadas não podem ser simplificadas dessa maneira. O presidente Lula não é o responsável por tudo que acontece de positivo no país.

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IVAN DAUCHAS (São Paulo, SP) Jornal Folha de São Paulo. PAINEL DO LEITOR. São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2010.

Pois então, meu caro leitor, vamos ficar atentos. Esse aparelhamento ideológico é mais grave do que a maioria das pessoas imagina. No passado, o PT talvez fosse uma ameaça à estabilidade econômica, hoje não é mais. Há muito, o partido lançou à lata do lixo seu ideário socialista. Hoje o PT é uma ameaça às instituições do país. Lula e seus aliados são de um pragmatismo extremo. Tudo que é bom para o partido é valido, porque também é bom para o país. Prevalece entre petistas a máxima maquiavélica: “os fins justificam os meios”. Se para fortalecer o partido é necessário corromper as instituições públicas, que assim seja.

 

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