No final dos anos 1960, pesquisadores da Universidade de Stanford, nos EUA, abandonaram duas viaturas, uma no Bronx, em Nova York, bairro pobre e conflituoso àquela época, e outra em Palo Alto, zona rica e tranqüila da Califórnia.
Em poucas horas, a viatura do Bronx começou a ser vandalizada. Tudo o que havia de valor foi arrancado e roubado, o que sobrou foi destruído. Enquanto isso, o automóvel de Palo Alto permanecia intacto.
O mais surpreendente, contudo, aconteceu a seguir. Passou-se uma semana e a viatura do bairro rico continuava intocada. Os pesquisadores resolveram, então, quebrar um dos vidros do automóvel e aguardar os resultados. Uma janela partida desencadeou no bairro rico a mesma ação perpetrada no bairro pobre. O automóvel de Palo Alto foi igualmente vandalizado e destruído.
O que é possível deduzir dessa experiência? Uma janela quebrada representa descuido, desinteresse ou deterioração. Se em uma comunidade há sinais de deterioração e ninguém se importa, a tendência é que o delito ali se instale. Uma simples janela partida pode levar uma sociedade a quebrar seus códigos de convivência e gradativamente produzir uma violência descontrolada.
Se um edifício tem uma janela partida e ninguém toma providência, em breve vândalos quebrarão outras janelas. Poderão então invadi-lo, destruí-lo ou incendiá-lo. Se alguém abandona lixo no passeio publico e esse não é recolhido, a tendência é que outras pessoas passem a deixar ali também o seu lixo. Por que não? Afinal de contas ninguém se importa mesmo.
A Teoria das Janelas Partidas foi colocada em prática pela primeira vez no metrô de Nova York, nos anos 1980. Pequenos delitos como pichações, sujeira e desordens foram reprimidos. O ambiente hostil e violento do metrô foi transformado em local seguro. Na década seguinte, o prefeito da cidade, Rodolph Giuliani, baseado nessa experiência, colocou em prática um programa de combate a violência conhecido por Tolerância Zero. A ideia consistia em combater a violência a partir de pequenas transgressões. Em comunidade limpas e ordenadas não se formam pequenos infratores que poderiam se transformar em violentos criminosos.
No Brasil, parece que essa teoria tem sido aplicada de forma inversa. Há muito nos acostumamos com o inaceitável. Vandalismos, pichações, sujeira, desordens, tudo foi aceito pelas pessoas como se isso fosse parte de nossa cultura. Andamos pelas ruas e vemos crianças abandonadas, favelas, moradores de rua, usuários de droga e também ninguém se importa. Talvez isso também tenha a ver com nossa cultura, com o nosso jeito de ser.
CRIANÇAS USANDO DROGAS
A falta de ética na política sempre foi muito bem aceita por brasileiros. Antigamente se justificava os desvios de um certo político com uma frase famosa: “ele rouba, mas faz”. O atual partido que governa o país no passado era um crítico voraz da corrupção. No poder, mostrou-se igual ou talvez pior dos que aqueles que criticava. Mesmo assim, após sucessivos escândalos envolvendo o governo, o Presidente da República bate recordes de popularidade. A ética do “rouba, mas faz” parece se manter.
Recentemente dados da Receita Federal de cidadãos brasileiros foram violados. O Ministro da Fazenda responde que “vazamentos sempre ocorreu”, ou seja, vamos nos acostumar a isso também. Assim como a pobreza aviltante, a robalheira, o fisiologismo, o nepotismo, agora o ataque às nossas instituições deve ser interpretado como algo normal. Sempre foi assim, quem se importa com isso?
E, de fato, ninguém parece se importar. A candidata a presidente pelo partido que, a que tudo indica, planejou o quebra do sigilo da Receita Federal permanece em primeiro lugar com 50% das intenções de voto. Ou seja, uma janela foi quebrada, ninguém se importou. Várias outras também o foram. Agora os vândalos invadiram e começam a atear fogo no edifício. A população assiste ao espetáculo dantesco com ares de conformidade. Sempre foi assim. Por que nos importar?
Parabéns pela iniciativa, Ivan. Você sempre teve um ângulo diverso a mostrar das coisas.
ResponderExcluirNo entanto, não creio nesse "algo" subjetivo que leva as pessoas a "quebrarem janelas". Acho que são as coisas objetivas é que explicam esse quadro. É contra a concorrência interpessoal que leva as pessoas a pertencerem ao grupo dos "quebradores de janelas". Se a estrutura social fosse outra, pergunto, por que quebrar algo que também é seu e que você contribuiu para criar e construir? Não, meu amigo, a janela que devemos quebrar reside em outro lugar, muito mais social, muito mais estrutural, do que objetivado, cristalizado em um objeto apenas.
Forte abraço.
Ely
Muitooo benvindo mais um Blog! É muito bom poder trocar idéias!
ResponderExcluirComo você mesmo citou, os próprios pesquisadores "tomaram a iniciativa" de quebrar a janela... isso me lembra o atentato no "Rio Centro".
Parabéns! Escreva muitoooo!
Parabéns professor, este é um assunto que realmente devemos levar a discussões profundas.
ResponderExcluirAbs,
Joel Jr.
ADM FMU Morumbi