Quem costuma ler o meu blog já percebeu que eu não sou nenhum entusiasta do governo Lula. Se o presidente tem 80% de aprovação, estou entre os 20% que não aprova esse governo. Mas apesar das divergências, não sou nenhum um radical xiita. Tenho de reconhecer que o presidente deixa, em meio a uma enormidade de coisas que eu e muitos brasileiros desaprovamos, algo de bom. Lula pode sim afirmar que “nunca antes na história desse país” um governo teve tanto empenho em melhorar as condições de vida dos mais pobres. Isso é bom, é uma conquista desse governo e algo que eles têm para se orgulhar.
Vejamos, por exemplo, o que o economista Ricardo de Paes de Barros, com certeza o maior especialista em políticas sociais do Brasil, diz sobre os programas petistas de redução da pobreza. Em entrevista concedida à Revista Exame (no. 22, 01/12/2010), o economista diz:
RICARADO PAES DE BARRO: com Lula, o Brasil teve um avanço social fantástico.
RICARADO PAES DE BARRO: com Lula, o Brasil teve um avanço social fantástico.
“Com o governo Lula, há um avanço social fantástico, ano após ano. Tanto a pobreza como a desigualdade caem. Foi assim mesmo em 2009, um período de tremenda crise econômica. A renda dos 10% mais pobres está crescendo a uma velocidade semelhante a da economia chinesa ou indiana, cerca de 8% ao ano. Já a renda dos 10% mais ricos cresce 1,5% ao ano, que é o padrão europeu. Ou seja, o brasileiro pobre está se aproximando do rico à mesma velocidade que a China se aproxima da Alemanha.”
Mais à frente, o economista completa:
“O interessante da política do presidente Lula é que ela é feita como se tivéssemos uma meta social. Antes, a política social estava subjugada à questão econômica. O pensamento era: se der, eu vou fazer. Agora o governo disse: vou fazer e o resto vai ter de se ajustar.”
Assim como a estabilidade macroeconômica é uma marca da gestão FHC - que o candidato Serra erroneamente não explorou durante sua campanha a presidente - a redução da pobreza é um legado positivo do governo Lula.
O grande equívoco do PT consiste em achar que eles estão fazendo algo tão grandioso pelo país que todos desvios morais tornam-se, por conta disso, irrelevantes e perdoáveis. Isso é um grande erro. A virtude de uma ação não deve ser medida exclusivamente pelos resultados, mas também pelos meios empregados. Por exemplo, subornar parlamentares para aprovar medidas que possam contribuir no combate à pobreza não está certo. Por mais que os fins sejam nobres, a ação, em si é moralmente espúria.
GOVERNO: os fins não justificam os meios.
A democracia no Brasil ainda está dando seus primeiros passos. Vamos torcer para que petistas compreendam que 44% dos brasileiros não aprovam um governo corrupto.
Por outro lado, a oposição tem de aprender que nenhum partido, daqui para frente, terá sucesso tratando cidadãos pobres como pessoas de segunda classe. A pobreza, a desigualdade e a falta de oportunidades são chagas da economia brasileira que, por décadas, foram tratadas como um problema de menor importância.
Vale lembrar que Lula perdeu quatro eleições presidenciais, duas delas porque criticou a estabilidade econômica promovida pelo Plano Real, num momento em que o maior desejo dos brasileiros era a garantia de que a inflação não iria mais voltar. Lula aprendeu bem a lição, mudou seu discurso radical e conseguiu eleger-se presidente.
Vamos torcer para que a oposição tenha essa mesma capacidade de reconhecer seus erros e mudar. Por conta disso, vejo com bons olhos a iniciativa de alguns tucanos em refundar o partido. Mas, se isso de fato acontecer, vamos aguardar para ver o que eles dirão sobre o compromisso em continuar reduzindo pobreza e desigualdade no país. Vamos dar uma chance ao otimismo. Aos trancos e barrancos, a democracia brasileira parece dar sinais de amadurecimento e evolução.
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